terça-feira, 19 de maio de 2009

União de Sadia e Perdigão cria 'gigante' brasileira dos alimentos

Empresa dominará mercados de frango, margarina e congelados no país.
Brasil Foods deve ganhar espaço no mercado externo, dizem especialistas.
Uma empresa de porte mundial, que ficará entre as dez maiores do setor alimentício das Américas, com receita de mais de R$ 25 bilhões, resultará da oficialização da união dos negócios promovida entre duas das marcas mais conhecidas do Brasil: a Sadia e a Perdigão.

Juntas, as "gigantes" de Santa Catarina – a Perdigão nasceu na cidade de Videira e a Sadia, em Concórdia – terão domínio absoluto sobre o mercado de abate de frangos, de alimentos congelados e de margarinas, entre outros.

O negócio, porém, só se concretizou depois de operações malsucedidas que a Sadia fez no mercado de câmbio do ano passado, quando apostou na continuidade da trajetória de queda do dólar frente ao real – em 2008, a moeda chegou a valer R$ 1,55.

Histórico do negócio
Como aconteceu o contrário, a Sadia amargou prejuízo de quase R$ 2,5 bilhões no ano passado, o primeiro de sua história. A companhia passou os últimos meses reorganizando a casa. Além de demitir executivos envolvidos nas operações de câmbio, chamou de volta o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, que hoje é presidente do Conselho da empresa.

Com a Sadia em dificuldades financeiras, a Perdigão “virou o jogo” no histórico de uma eventual união entre as concorrentes. Nos anos 90, em dificuldades financeiras, a Perdigão quase teve de se render à concorrente. Em 2006, mesmo com a Perdigão mais profissionalizada, a Sadia voltou a tentar comprar a rival.

A oferta foi recusada porque a Perdigão considerou que a oferta feita na época – de cerca de R$ 3,7 bilhões – foi considerada insuficiente. Agora, a Perdigão chega para a negociação com a expectativa de se tornar majoritária na nova empresa, que já foi apelidada pelo mercado de “Sadigão”, mas deve ganhar uma denominação mais sóbria: Brasil Foods, que dará fôlego aos planos internacionais da companhia.

De acordo com o mercado, as vantagens da união das duas empresas são óbvias: como ambas atuam no mesmo mercado, o nível de sinergia – possibilidade de economia – é grande, desde a negociação com fornecedores e clientes até a logística, uma vez que os custos de distribuição diminuirão.

De acordo com a consultoria Brascan, em uma visão conservadora, a economia da união será de R$ 2,2 bilhões, mas há quem arrisque que o ganho de eficiência possa chegar ao dobro disso. A analista Denise Messer, que fez as contas, prevê que, a fusão possa gerar um ágio de 20% no valor de mercado da nova companhia. “Se (o negócio) se confirmar, a operação será benéfica para as duas empresas”, ressalta.

De acordo com Rafael Cintra, da Link Investimentos, a Perdigão é a ação “preferida” da consultoria para o setor de alimentos – para a Sadia, neste momento, a posição é mais conservadora, uma vez que o papel já subiu muito desde o início dos rumores da fusão.

No longo prazo, diz ele, a união das companhias é claramente um bom negócio. “Se o mercado não atrapalhar, o caminho natural é (a nova empresa) ter ganho de escala, melhorar a eficiência operacional, aumentar o lucro e a remuneração do acionista”, ressaltou.

'Gigante'
O apelido de “Ambev dos alimentos” faz sentido por conta da participação de mercado que as empresas terão depois da união. Enquanto a Ambev conquistou dois terços do mercado de cervejas, a “Sadigão” terá participação parecida no setor de margarinas e de industrializados de carnes, por exemplo.

Ambas as empresas também vêm crescendo no setor industrial – na Sadia, os alimentos prontos já representam quase 50% do faturamento, segundo o relatório anual da companhia.

De acordo com a consultoria Economatica, a união de Sadia e Perdigão garantiria à nova companhia um lugar entre as dez maiores empresas de alimentos do continente americano em termos de faturamento, considerados os dados do quarto trimestre de 2008.

Unida, a “Sadigão” apareceria em nono lugar no ranking da consultoria, atrás apenas de outra empresa brasileira, a JBS-Friboi, do segmento de carne bovina. O restante da lista inclui apenas “gigantes” norte-americanas do setor.

Considerado apenas as empresas que atuam no setor de abate, ainda segundo a Economatica, a posição da Sadia seria ainda melhor: após a fusão, a empresa chegaria ao terceiro lugar das Américas, atrás apenas da norte-americana Tyson Foods e da JBS.

Segundo o mercado, a posição da Brasil Foods neste ranking se justifica pela forte atuação da empresa no segmento de frangos, no qual será líder mundial.

Para o especialista em fusão de empresas Frederico Turolla, professor de economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), "concentração não é sinônimo de falta de concorrência".

"Não é porque o mercado é concentrado que não é competitivo, com preços favoráveis ao consumidor. E o Brasil dispõe de instrumentos para evitar que os efeitos que podem ser negativos atinjam o consumidor", ressaltou o professor.

Segundo Turolla, apesar de as empresas terem marcas fortes, o investidor está mais interessado em saber se a empresa tem números sólidos para mostrar – quesito que ultimamente tem prejudicado a Sadia, por conta dos maus negócios no mercado de câmbio.

Apesar de considerar a marca uma questão "menor", ele diz que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode ordenar que um dos nomes seja vendido para um concorrente. "Mas isso só se a marca tiver impacto negativo para a concorrência", frisou.

Para a analista Amaryllis Romano, economista e especialista em agronegócio da Consultoria Tendências, é provável que o Cade institua normas que restrinjam a atuação de Sadia e Perdigão para que as empresas menores que concorrem no mesmo mercado não sejam prejudicadas.

"É um negócio que não passa fácil pelo Cade, será preciso apresentar toda a defesa econômica disso. Mas com certeza vai haver restrições que não vão permitir prejudicar as (empresas) menores."

G1

Nenhum comentário: